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Arquitetos: VAUMM
- Ano: 2017
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Fotografias:Aitor Estévez
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Fabricantes: Alucoil, Lamp Lighting, Orona Pecres
Descrição enviada pela equipe de projeto. Existem projetos que transitam por diversas escalas que, a princípio, parecem incompatíveis, escalas que afetam a cidade mas que ancoram sua arquitetura na materialidade.
A cidade é forma, tecido edificado, público e privado, mas também é a somatória das pessoas que a habitam. O envelhecimento da população na atualidade é uma realidade inegável. Em nossa sociedade, 9 milhões de pessoas tem mais de 65 anos. No ano de 2050, esta cifra alcançará os 15 milhões, ou seja, 1 a cada 3 cidadãos terão mais de 65 anos. O impacto sobre a saúde, a economia ou a sociologia é mais do que evidente, mas qual será o impacto sobre as cidades?
O bairro de Alaberga em Errenteria, Gipuzkoa, foi construído nos anos 1960, em pleno contexto de desenvolvimento industrial, para abrigar um grande número de pessoas da forma mas rápida possível. A topografia acidentada dividiu a distribuição em duas partes diferentes, uma na cota mais baixa, organizada ao redor da igreja e com blocos lineares que se aproximam da formalização de quadras e ruas, e outro com edificações dispersas que se implantam nas encostas deixando vazias as áreas mais íngremes. Hoje, Errenteria se expandiu pela cota mais alta, deixando este território verde como um vazio urbano que divide o município com um desnível de mais de 40 metros.
Uma cidade dividida, que pode ser reconectada para os pedestres por meio de elevadores urbanos, que vão costurando todas as cotas importantes, caminhos intermediários, acessos à igreja ou às residências próximas. Assim como um novo sistema viário que permite que um bloco com 6 acessos e 42 residências seja agora acessado pela cota de entrada, sem a necessidade de subir um desnível de 10 metros de estreitas escadas para poder acessar o térreo. Esta intervenção só pode ser explicada a partir de uma perspectiva urbana como uma solução direta para a obsolescência de um sistema de cidade que foi pensado para outro perfil de habitante e que hoje tornou-se inaceitável para a grande maioria dos cidadãos.
Por outro lado, a proposta deve se conectar e responder ao lugar em que se localiza. O projeto concentra boa parte de seus esforços em domesticar a percepção destas duas infraestruturas que cruzam a ladeira. Aquele espaço residual, cedido à natureza, dadas suas más condições para edificação, é uma barreira física para a cidade, mas também um pulmão verde de grande valor que deve ser preservado. Um bosque denso de árvores caducas cuja aparência muda radicalmente do verão para o inverno, construindo diferentes percepções em relação a um novo lugar.
O aspecto facetado de ambas estruturas e seus revestimentos de alumínio polido espelho pretendem uma relação direta com este entorno em constante transformação. Brincar com os mecanismos que orientam a percepção do espectador supõe para o arquiteto a possibilidade de organizar um mundo de surpresas ou desequilíbrios que desafiam a segurança que o conhecimento prévio do mundo que nos rodeia. No final das contas, a percepção não é nada além da maneira como nosso cérebro interpreta os diferentes estímulos que recebe através dos sentidos para formar a impressão consciente da realidade de um contexto pelo qual nos movemos. Os reflexos e sobreposições de coberturas, nuvens, galhos e folhas se transformam em um material verdadeiro e transformador das torres e passarelas. De alguma forma, a paisagem parece em algumas ocasiões fluir apoderando-se do volume construído, desfazendo seus limites, alterando sua massa. Não se sabe se a paisagem reabsorveu a arquitetura, ou se pelo contrário, a obra construído apropriou-se do ícone natural.
Originalmente publicado em Março 21, 2018.